Sífilis, obesidade e infarto: brasileiro adoece e não sabe, diz estudo

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O brasileiro come mal, não se exercita e foge de médico, mas acredita que leva uma vida saudável. Uma pesquisa com 20 milhões de pacientes, no entanto, desmorona essa percepção: o Brasil não contém o avanço das doenças infecciosas –como as sexuais–, nem as mortes por traumas da violência e acidentes do trânsito. Ao mesmo tempo, o rápido envelhecimento da população traz doenças crônicas, de progressão lenta e longa duração. Por tudo isso, a obesidade, a sífilis e o infarto no miocárdio já são epidêmicos.

O estudo com dados do IBGE, OMS (organização Mundial da Saúde), INCA (Instituto Nacional do Câncer), Ministério da Saúde, Unifesp e Dasa (empresa especializada em diagnóstico) foi organizado pelo InstitutoIpsos e divulgado em São Paulo. Com as estatísticas em punho, os pesquisadores bateram nas casas de 1.200 famílias para descobrir como o brasileiro se vê quando o assunto é saúde.

“O brasileiro é otimista”, afirma o médico Emerson Gasparetto, vice-presidente da área médica da Dasa, que contratou o estudo: Quase 78% garantem que têm qualidade de vida. De forma geral, eles se veem morando, comendo e vivendo bem, mas isso não é verdade. O brasileiro não toma sol, come mal e atividade física não é habito da maioria, principalmente entre os homens. Mas, afinal, o que mais deveria preocupar o brasileiro?

Sífilis

A sífilis, “que não se via mais”, agora preocupa. “O Brasil vive uma epidemia”, alerta Gasparetto. “E não é não é apenas na classe D. É na avenida Faria Lima, filha de executivo de 16 anos com sífilis.” Em 2001, eram diagnosticados 2,1 casos por 100 mil habitantes no Brasil; em 2015, eram 7,5. “E ninguém fala sobre isso.” A principal razão é que o HIV, outra doença sexualmente transmissível, está controlada. Como parte dos jovens acredita que já não precisa de prevenção, “hoje é natural fazer sexo sem preservativo”.

Obesidade

A pesquisa aponta que 54% dos brasileiros está acima do peso. Muito se deve à alimentação ruim: só 30% dos entrevistados comem frutas, verduras e legumes diariamente. “Come-se cada vez pior no Brasil. A gente segue o que faz a sociedade americana. A obesidade por lá é grande, e estamos trilhando o mesmo caminho. A obesidade infantil é ainda pior.” O sedentarismo também é grande: 52% dos brasileiros não fazem qualquer atividade física. “É pior entre as mulheres, principalmente depois dos 45 anos.” Iniciativas como a que reduz açúcar em alimentos é bem-vinda, mas ainda têm alcance limitado.

Diabetes

A obesidade tem íntima relação com a diabetes. O Brasil tem 12,4 milhões de diabéticos e 40 milhões de pré-diabéticos, ou 20% da população adulta. Homens e mulheres têm o mesmo risco, mas elas monitoram a glicemia com mais frequência, apontam os estudos. Apenas 10% dos homens de 45 a 59 anos fazem exames, índice que sobe para 14% entre as mulheres da mesma idade. Depois que completam 60 anos, 14% dos homens pedem avaliação. Entre as mulheres idosas, essa proporção chega a 24%.

Infarto

Principal causa de mortes no mundo, o infarto do miocárdio mata 17,5 milhões de pessoas todos os anos, segundo a OMS. No Brasil, foram 260 mil óbitos entre janeiro e agosto deste ano. A boa notícia é que a disseminação do exame de angiotomografia vem derrubando esses índices nos países desenvolvidos. Por aqui, no entanto, a escalada de mortes continua. “No Brasil, apesar da tecnologia disponível, não vemos essa redução porque o exame é caro. Ele tem de ser mais barato e disponível a mais gente”.

Sono

Nas entrevistas da Ipsos, a maioria dos brasileiros disse que dorme bem. Mas quando o pesquisador pediu mais detalhes, descobriu que 38% dos entrevistados dormem mal pelo menos três vezes na semana. “O brasileiro declara que tem uma saúde muito boa, mas quando começa a perguntar mais especificamente, a gente vê que a realidade é diferente da percepção deles.”

Automedicação

O estudo descobriu que 39% dos brasileiros de todas as classes e independentemente do sexo tomam remédio sem recomendação médica, e 46% vão à farmácia para comprar remédio sem prescrição. “A automedicação é grave […] Se é um habito da população, é preciso medidas governamentais para mudar”, diz o especialista.

Câncer de próstata

Embora seja a quarta causa de morte por câncer no Brasil, respondendo por 6% dos óbitos entre homens acima de 65 anos, apenas 34% entre aqueles de 45 a 59 anos recorrem a exames. Esse percentual sobe para 53% quando eles completam 60 anos.

Exames

No Brasil “os médicos prescrevem exames demais”. Além do interesse econômico do setor, o paciente não acredita quando o especialista apresenta o diagnóstico sem solicitar avaliação em laboratório. Ainda de acordo com a pesquisa, 24% dos pacientes não fazem testes por medo do que podem descobrir. “Os exames caem principalmente em época festiva. Ninguém quer saber que está doente perto do Natal.”

Prevenção

O brasileiro prefere remediar. Cerca de 58% das pessoas só procura por serviços de saúde quando já estão doentes. “Não temos uma cultura de prevenção entre os pacientes e entre o setor de saúde, que precisa oferecer o serviço. Com a medicina genômica podemos ser mais preditivos. A medicina preventiva é falha no Brasil.”

Tabagismo

A boa notícia é que cada vez menos brasileiros estão fumando. A pesquisa informa que 79% dos entrevistados garantem que nunca tragaram um cigarro na vida. Entre os jovens, essa proporção alcança 90%. “É uma evolução dos últimos 30 anos no hábito do brasileiro”, conclui o especialista.

Fonte: UOL