F.A.Q. Dúvidas frequentes

O que é HIV?

HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da Aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+. E é alterando o DNA dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo. Depois de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção.

Ter o HIV não é a mesma coisa que ter a Aids. Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Mas, podem transmitir o vírus a outros pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação. Por isso, é sempre importante fazer o teste e se proteger em todas as situações.

Biologia – HIV é um retrovírus, classificado na subfamília dos Lentiviridae. Esses vírus compartilham algumas propriedades comuns: período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença, infecção das células do sangue e do sistema nervoso e supressão do sistema imune.

O que é Aids?

A Aids é o estágio mais avançado da doença que ataca o sistema imunológico. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, como também é chamada, é causada pelo HIV. Como esse vírus ataca as células de defesa do nosso corpo, o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças, de um simples resfriado a infecções mais graves como tuberculose ou câncer. O próprio tratamento dessas doenças fica prejudicado.

Há alguns anos, receber o diagnóstico de Aids era uma sentença de morte. Mas, hoje em dia, é possível ser soropositivo e viver com qualidade de vida. Basta tomar os medicamentos indicados e seguir corretamente as recomendações médicas.

Saber precocemente da doença é fundamental para aumentar ainda mais a sobrevida da pessoa. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda fazer o teste sempre que passar por alguma situação de risco e usar sempre o preservativo.

Por que fazer o teste?

Saber do contágio pelo HIV precocemente aumenta a expectativa de vida do soropositivo. Quem busca tratamento especializado no tempo certo e segue as recomendações do médico ganha em qualidade de vida.

Além disso, as mães soropositivas têm 99% de chance de terem filhos sem o HIV se seguirem o tratamento recomendado durante o pré-natal, parto e pós-parto. Por isso, se você passou por uma situação de risco, como ter feito sexo desprotegido ou compartilhado seringas, faça o exame!

O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito a partir da coleta de sangue. No Brasil, temos os exames laboratoriais e os testes rápidos, que detectam os anticorpos contra o HIV em até 30 minutos, colhendo uma gota de sangue da ponta do dedo. Esses testes são realizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), nas unidades da rede pública e nos Centros de Testagem e Aconselhamento – CTA (ver localização pelo país). Os exames podem ser feitos inclusive de forma anônima. Nesses centros, além da coleta e da execução dos testes, há um processo de aconselhamento, antes e depois do teste, para facilitar a correta interpretação do resultado pelo paciente. Também é possível saber onde fazer o teste pelo Disque Saúde (136).

A infecção pelo HIV pode ser detectada com, pelo menos, 30 dias a contar da situação de risco. Isso porque o exame (o laboratorial ou o teste rápido) busca por anticorpos contra o HIV no sangue. Esse período é chamado de janela imunológica.

Onde fazer o teste?

Você pode fazer o teste de Aids em um Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) ou nas diversas unidades das redes públicas de saúde. Ele pode ser feito de forma anônima e é gratuito. Em nossa cidade (Brotas) os testes são feitos no postos de saúde – Central, Taquaral, Campos Elíseos e no Pró Mulher.

Quais os tipos de exames?

Os testes para diagnóstico da infecção por HIV são produzidos pela Fundação Oswaldo Cruz, do Ministério da Saúde, e realizados gratuitamente nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e em outras unidades das redes pública de saúde, incluindo um grande número de maternidades. Ligue para o Disque Saúde (136) e veja o melhor local para fazer o teste.

De laboratório

Teste Elisa
É o mais realizado para diagnosticar a doença. Nele, profissionais de laboratório buscam por anticorpos contra o HIV no sangue do paciente. Se uma amostra não apresentar nenhum anticorpo, o resultado negativo é fornecido para o paciente. Caso seja detectado algum anticorpo anti-HIV no sangue, é necessária a realização de outro teste adicional, o teste confirmatório. São usados como testes confirmatórios, o Western Blot, o Teste de Imunofluorescência indireta para o HIV-1 e o imunoblot. Isso porque, algumas vezes, os exames podem dar resultados falso-positivos em consequência de algumas doenças, como artrite reumatoide, doença autoimune e alguns tipos de câncer.

Nesse caso, faz-se uma confirmação com a mesma amostra e o resultado definitivo é fornecido ao paciente. Se o resultado for positivo, o paciente será informado e chamado para mais um teste com uma amostra diferente. Esse é apenas um procedimento padrão para que o mesmo não tenha nenhuma dúvida da sua sorologia.

Independentemente do resultado do exame, positivo ou negativo, o paciente é encaminhado ao aconselhamento pós-teste – conversa com o profissional do CTA ou do posto de saúde que orienta sobre prevenção, tratamento e outros cuidados com a saúde.

O Elisa é feito com uma placa de plástico que contém proteínas do HIV absorvidas ou fixadas nas cavidades em que cada amostra de soro ou plasma (que são frações do sangue) será adicionada. Após uma sequência de etapas, em que são adicionados diferentes tipos de reagentes, o resultado é fornecido por meio de leitura óptica, em um equipamento denominado leitora de Elisa.

Teste western blot
De custo elevado, o western blot é confirmatório, ou seja, indicado em casos de resultado positivo no teste Elisa. Nele, os profissionais do laboratório procuram fragmentos do HIV, vírus causador da Aids.

Para a realização do Western Blot, utiliza-se uma tira de nitrocelulose em que serão fixadas proteínas do HIV. O soro ou plasma do paciente é adicionado, ficando em contato com a tira de nitrocelulose. Depois da adição de vários tipos de reagentes, o resultado é fornecido por meio de leitura visual, pelo profissional do laboratório.

Teste de imunofluorescência indireta para o HIV-1
Também confirmatório, o teste de imunofluorescência indireta para o HIV-1 permite detectar os anticorpos anti-HIV. Nele, o soro ou plasma do paciente é adicionado a uma lâmina de vidro que contém células infectadas com o HIV, fixadas nas cavidades. Após uma sequencia de etapas, em que são adicionados diferentes tipos de reagentes, o resultado é fornecido por meio da leitura em um microscópio de imunofluorescência.

Teste rápido

Possui esse nome, pois permitem a detecção de anticorpos anti-HIV na amostra de sangue do paciente em até 30 minutos. Por isso, pode ser realizado no momento da consulta. Os testes rápidos permitem que o paciente, no mesmo momento  que faz  o teste tenha conhecimento do resultado e receba o aconselhamento pré e pós-teste. O teste rápido é preferencialmente adotado em populações que moram em locais de difícil acesso, em gestantes que não fizeram o acompanhamento no pré-natal e em situações de acidentes no trabalho. Conheça o teste de fluido oral.

Qual o atendimento inicial?

Após receber o diagnóstico da infecção por HIV, o paciente deve marcar uma consulta com um especialista em Aids, no Serviço de Assistência Especializada (SAE).

Nessa primeira consulta, o paciente precisa informar a história clínica inicial, tempo de diagnóstico, se já apresentou alguma doença grave e quais são as condições e os hábitos de vida. É bem provável que, na primeira consulta, o médico peça exames, como: hemograma completo (sangue), urina, fezes, glicose (açúcar), colesterol e triglicérides (gorduras), raios-X de tórax, hepatite B e C, tuberculose e os testes de  contagem dos [tip:linfócitos T CD4+=Teste de CD4 – é o melhor indicador de como está funcionando o sistema imunológico.] (indica o sistema de defesa) e o de [tip:carga viral=Teste de carga viral – o resultado mostra se o vírus está se reproduzindo no organismo.] (quantidade de vírus circulante no sangue).

Dependendo do resultado dos exames clínicos e laboratoriais, pode ser necessário que o soropositivo comece a terapia antirretroviral, que é o tratamento com medicamentos. O médico fará o acompanhamento do paciente, que deve voltar regularmente ao consultório no tempo determinado pelos profissionais. No SAE, também estão disponíveis atendimentos com psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, enfermeiros e farmacêuticos.

A consulta com o profissional de saúde é o momento certo para esclarecer todas as dúvidas. O paciente deve saber como tomar os remédios, quais os horários que melhor se encaixam na rotina ou como adequar os hábitos diários para tomar a medicação regularmente. O médico deve falar sobre os sintomas que podem ser causados pelos medicamentos e o que deve ser feito se algum desses efeitos colaterais surgir – a maioria dos sintomas desaparece em poucos dias. Esse primeiro contato com o médico é o passo inicial para o sucesso do tratamento.

A equipe envolvida no atendimento de soropositivos tem todas as condições de responder sobre qualquer assunto relacionado ao tratamento e à prevenção da doença. Por isso, pergunte sempre sobre tudo o que tiver dúvida!

O que são infecções oportunistas?

As infecções oportunistas são doenças que se aproveitam da fraqueza do sistema imunológico, que cuida da defesa do organismo. Como os principais alvos do HIV, vírus causador da Aids, são essas células de defesa, é importante estar sempre de olho na saúde. Para manter uma vida saudável e evitar que o organismo baixe ainda mais suas defesas, é necessário cuidar da alimentação, fazer exercícios físicos e estar bem emocionalmente. Com esses cuidados diários, será mais difícil que seu corpo fique vulnerável a resfriados, gripes ou problemas gastrointestinais, que podem evoluir para doenças mais graves.

Em pessoas com Aids, o estágio mais avançado da doença, essas infecções muitas vezes são graves e podem ser fatais, pois o sistema imunológico do indivíduo pode estar danificado pelo HIV. Por isso, é bom prestar atenção às alterações do nosso corpo.

São infecções oportunistas, entre outras:

  • Infecções recorrentes ocasionadas por fungos (na pele, boca e garganta);
  • Diarreia crônica há mais de 30 dias, com perda de peso;
  • Pneumonia;
  • Tuberculose disseminada;
  • Neurotoxoplasmose;
  • Neurocriptococose;
  • Citomegalovirose;

Coinfecções, o que são?

Coinfecção é quando o organismo sofre com duas ou mais doenças ao mesmo tempo. Em soropositivos, as coinfecções dificultam o tratamento, pois debilitam ainda mais a saúde do paciente. Nesse caso, são necessárias estratégias específicas para facilitar o acompanhamento e evitar interações entre os medicamentos. Com o tratamento adicional, podem surgir novos efeitos colaterais.

As infecções frequentes em soropositivos no Brasil são: hepatites B e C e tuberculose. Juntas, representam uma das principais causas de óbito entre as pessoas infectadas pelo HIV. Outras doenças que costumam aparecer são alguns tipos de câncerHTLVsífilis e doenças cardiovasculares preexistentes.

Como manter a adesão?

Para evitar o abandono de tratamento, profissionais de saúde e pacientes podem recorrer a estratégias como:

  • Bom acolhimento e abordagem adequada sobre as dúvidas e reações adversas;
  • Orientação e aconselhamento sobre os medicamentos, como adequar horários e não abandonar o tratamento (reforçar a importância da adesão);
  • Curto intervalo de retorno entre as consultas (semanais no primeiro mês, quinzenais no segundo e mensais a partir do terceiro) e atenção ao monitoramento de exames;
  • Tratamento supervisionado principalmente nos casos de coinfecção por tuberculose.

HIV e hepatite B e C

Considerada uma das maiores epidemias do século, a hepatite C (HCV) já infectou mais de 170 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Dessas, cerca de 30% também apresentam infecção pelo HIV. Quem tem a coinfecção HIV e hepatite C pode apresentar histórico de uso de drogas (anterior ou atual), álcool, distúrbios psicológicos e psiquiátricos, em particular a depressão, que comprometem o processo da adesão ao tratamento e agravam os efeitos colaterais.

A hepatite C pode tornar mais difícil preservar o sistema imunológico da pessoa que vive com HIV e acelerar a progressão para a Aids e a morte. Também pode ser verificado uma evolução mais rápida para cirrose, insuficiência hepática (do fígado) e câncer de fígado, em alguns casos.

O tratamento consiste no uso semanal de uma medicação injetável que deve ser administrada em unidade pública de saúde indicada pelo médico. Os efeitos colaterais envolvem sintomas psicológicos e transtornos mentais como depressão, irritabilidade, ansiedade, alteração do sono, diminuição da libido, diminuição da atenção e da concentração, além de ideias suicidas.

A coinfecção pela hepatite B em soropositivos aumenta em cinco a seis vezes o risco de se tornarem portadores crônicos da hepatite e de desenvolverem cirrose. O tratamento é semelhante ao da Aids, com a indicação de antivirais. As reações que podem surgir com o uso dos medicamentos são as mesmas do tratamento de hepatite C.

Pacientes coinfectados não podem esquecer de usar camisinha e, se forem usuários de drogas injetáveis, devem utilizar seringas descartáveis, para prevenção da transmissão dos vírus causadores da Aids e da hepatite B e C. Quando for o caso, a pessoa será orientada a não consumir álcool, para evitar um dano adicional ao fígado.

HIV e tuberculose

De acordo com estimativas da OMS, existem cerca de 33 milhões de pessoas infectadas por HIV no mundo, das quais 25% estariam coinfectadas por tuberculose. Segunda causa de óbito entre soropositivos, a tuberculose pode ocorrer em qualquer estágio da infecção pelo HIV.

O diagnóstico de tuberculose na coinfecção é semelhante ao diagnóstico na população geral. O diferencial está nos sintomas clínicos, pois, nas pessoas infectadas pelo HIV, a doença pode ocorrer com mais frequência fora do pulmão e de maneira disseminada no corpo. E o tratamento é o mesmo do indicado para a população geral e está disponível na rede pública de saúde.

HIV e HTLV

O HTLV (human T lymphotropicvirus tipo I e II) foi o primeiro retrovírus humano a ser descoberto e infecta entre 10 e 20 milhões de pessoas em todo o mundo. O HTLV-I é bastante semelhante ao HIV-1, apesar de serem diferentes no tipo de doença que causam, principalmente porque o HTLV se multiplica menos que o HIV e não causa a morte da célula.

Atualmente, o exame de sorologia para HTLV está indicado para portadores do HIV que estão em regiões onde a doença é mais frequente, para usuários de drogas injetáveis ou pessoas que apresentam manifestações neurológicas compatíveis com as causadas por esse vírus.

É muito importante fazer a prevenção da transmissão do vírus, evitando a amamentação, fazendo sexo seguro e não compartilhando seringas e agulhas.

Tipos de câncer

A relação entre HIV e certos tipos de câncer ainda não está completamente clara; no entanto, acredita-se que a deficiência do sistema de defesa tenha relação direta com a causa de algumas neoplasias (cânceres), que são mais frequentes em portadores do HIV.

terapia antirretroviral aumentou a sobrevida dos portadores do HIV, isso resultou em um número cada vez maior de pessoas com idade mais avançada expostos à condição crônico-degenerativa da doença, tornando o desenvolvimento de cânceres um aspecto preocupante e que deve ser considerado nessa população.

Os mais comuns são Sarcoma de Kaposi (tipo de câncer pouco agressivo e de evolução lenta), Linfoma não-Hodgkin (tumor frequente na medula óssea, estômago, intestino, fígado e sistema nervoso central), neoplasia anal e câncer cervical (associado à infecção causada pelo HPV).

 

Quais são os antirretrovirais?

Os medicamentos antirretrovirais surgiram na década de 1980, para impedir a multiplicação do vírus no organismo. Eles não matam o HIV, vírus causador da Aids , mas ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico. Por isso, seu uso é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida de quem tem Aids.

Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente o coquetel antiAids para todos que necessitam do tratamento. Segundo dados de 2015, 455 mil pessoas estavam em uso dos remédios para tratar a doença. Atualmente, existem 22 medicamentos divididos em cinco tipos.

 

Classes de medicamentos antirretrovirais
Inibidores Nucleosídeos da Transcriptase Reversa – atuam na enzima transcriptase reversa, incorporando-se à cadeia de DNA que o vírus cria. Tornam essa cadeia defeituosa, impedindo que o vírus se reproduza.
São eles: Abacavir, Didanosina, Estavudina, Lamivudina, Tenofovir, Zidovudina e a combinação Lamivudina/Zidovudina.

Inibidores Não Nucleosídeos da Transcriptase Reversa – bloqueiam diretamente a ação da enzima e a multiplicação do vírus.
São eles: Efavirenz, Nevirapina e Etravirina.

Inibidores de Protease – atuam na enzima protease, bloqueando sua ação e impedindo a produção de novas cópias de células infectadas com HIV.
São eles: Atazanavir, Darunavir, Fosamprenavir, Lopinavir/r, Ritonavir, Saquinavir e Tipranavir.

Inibidores de fusão – impedem a entrada do vírus na célula e, por isso, ele não pode se reproduzir.
É a Enfuvirtida.

Inibidores da Integrase – bloqueiam a atividade da enzima integrase, responsável pela inserção do DNA do HIV ao DNA humano (código genético da célula). Assim, inibe a replicação do vírus e sua capacidade de infectar novas células.
É o Raltegravir.

 

Para combater o HIV é necessário utilizar pelo menos três antirretrovirais combinados, sendo dois medicamentos de classes diferentes, que poderão ser combinados em um só comprimido. O tratamento é complexo, necessita de acompanhamento médico para avaliar as adaptações do organismo ao tratamento, seus efeitos colaterais e as possíveis dificuldades em seguir corretamente as recomendações médicas, ou seja aderir ao tratamento . Por isso, é fundamental manter o diálogo com os profissionais de saúde, compreender todo o esquema de tratamento e nunca ficar com dúvidas.

Como é o início da terapia antirretroviral?

O início do tratamento com medicamentos antirretrovirais é um dos momentos mais difíceis para o soropositivo, pois uma nova rotina deve ser incorporada em sua vida. E os remédios podem lembrá-lo a cada momento da doença. Por isso, os profissionais de saúde devem ajudar o paciente a enfrentar o início da terapia.

É preciso tomar os remédios corretamente, mesmo com possíveis problemas de horário e efeitos colaterais. E a adesão é um dos maiores desafios para a os pacientes. Por isso, na conversa com o médico, o soropositivo deve listar as dificuldades que possam surgir. Seguir todas as recomendações médicas relacionadas aos remédios, alimentaçãoprática de exercícios físicos é fundamental para aumentar a qualidade de vida do paciente. O uso de qualquer outro medicamento, álcool e drogas deve ser avisado ao médico para a troca de informações sobre interação e possíveis reações do organismo.

Geralmente, as consultas são feitas em intervalos de duas a três semanas. Até 30 dias após o início do tratamento, recomenda-se a realização de exames de sangue para avaliar o estado de saúde do paciente e a reação do organismo aos remédios indicados. Com o tempo, os controles podem ser feitos a cada três ou quatro meses.

Troca da combinação
Após o início do tratamento com medicamentos antirretrovirais, alguns soropositivos podem precisar trocar as combinações. Para montar os “esquemas de resgate”, os médicos precisam estar atentos à evolução da carga viral, contagem de linfócitos T CD4+ e aparecimento de algumas doenças. Mas, alguns fatores interferem no tratamento: intolerância, má-adesão, uso prévio de combinações inadequadas e resistência primária do HIV. Nesses casos, o médico deverá solicitar o [tip:teste de genotipagem=É um exame de sangue que analisa a sequência de DNA do HIV (genoma). Verifica possível resistência do vírus a algum medicamento.], para identificar a quais medicamentos a pessoa ficou resistente, para que possa ser planejada a troca do esquema.

Quem precisa tomar?

Todas as Pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) tem direito ao tratamento com os antirretrovirais (ARV). Grandes estudos multicêntricos (START, TEMPRANO) demonstraram benefícios na redução das taxas de mortalidade e morbidade (morte e doenças associadas ao HIV/Aids) das PVHA quando essas iniciaram o tratamento precocemente. Os antirretrovirais utilizados atualmente apresentam menores efeitos colaterais quando comparados com aqueles utilizados no início da epidemia. Porém, é verdade que como toda medicação, os ARV poderão apresentar alguns efeitos colaterais, que poderão desaparecer ou não. Isso vai depender do esquema utilizado e também varia de paciente para paciente.

É indispensável que as PVHA façam seguimento regular em serviços que acompanhem as PVHA, para que seja possível identificar e minimizar qualquer incomodo que o tratamento possa trazer para o paciente.

Cada caso é único e deve ser avaliado individualmente no que diz respeito a escolha do esquema com ARV, as coinfecções  que possam ser diagnosticadas ou outras doenças previamente existentes. Atenção deverá ser dada também as possíveis interações medicamentosas, nunca deixe de informar a seu médico se você já faz uso de outras medicações.

A tomada diária e correta dos antirretrovirais é a chave para o sucesso do tratamento.

 

Quais são os efeitos colaterais dos antirretrovirais?

O tratamento com os medicamentos antirretrovirais traz muitos benefícios aos pacientes: aumentam a sobrevida e melhoram a qualidade de vida de quem segue corretamente as recomendações médicas. Mas, como os medicamentos precisam ser muito fortes para impedir a multiplicação do vírus no organismo, podem causar alguns efeitos colaterais desagradáveis.

Entre os mais frequentes, encontram-se: diarreia, vômitos, náuseas, manchas avermelhadas pelo corpo (chamadas pelos médicos de rash cutâneo), agitação, insônia e sonhos vívidos. Há pessoas que não sentem mal-estar. Isso pode estar relacionado com características pessoais, estilo e hábitos de vida, mas não significa que o tratamento não está dando certo.

Alguns desses sintomas ocorrem no início do tratamento e tendem a desaparecer em poucos dias ou semanas. É importante saber que existem diversas alternativas para melhorá-los. Por isso, é recomendável que o soropositivo procure o serviço de saúde em que faz o acompanhamento, para que possa receber o atendimento adequado. Nesses casos, não recomenda-se a automedicação (pode piorar o mal-estar) nem o abandono do tratamento (causando a resistência do vírus ao remédio).

Além dos efeitos colaterais temporários descritos acima, os pacientes podem sofrer com alterações que ocorrem a longo prazo, resultantes da ação do HIV, somados aos efeitos tóxicos provocados pelos medicamentos. Os coquetéis antiAids podem causar danos aos  rinsfígadoossosestômago e intestinoneuropsiquiátricas. Além disso, podem modificar o metabolismo, provocando lipodistrofia (mudança na distribuição de gordura pelo corpo), diabetes, entreoutras doenças.

Lipodistrofia

As mudanças ocorrem pela má distribuição da gordura do corpo. Existe uma perda de gordura no rosto, glúteos, pernas e braços e acúmulo no abdômen, costas, pescoço e mamas. Essas alterações podem aparecer juntas ou isoladas. Há casos em que a gordura diminui em determinadas partes do corpo e aumenta em outras. E relatos em que o paciente somente perde gordura ou aumenta em algumas dessas regiões.

As pessoas em uso de antirretrovirais devem ficar atentas, principalmente, às modificações no seu corpo e conversar com o médico que faz o acompanhamento. A primeira providência do profissional pode ser mudar algum medicamento que o paciente esteja tomando, além de indicar atenção especial à alimentação e à prática de atividades físicas. Essas duas ações podem amenizar os danos da lipodistrofia e até mesmo evitar que esse efeito colateral apareça.

As alterações mais graves podem ser corrigidas por cirurgias plásticas reparadoras. Elas são gratuitas e estão disponíveis em várias unidades da rede pública de saúde de todo o país. Algumas das mais frequentes são: preenchimento facial com polimetilmetacrilato, para o tratamento da perda de gordura no rosto; lipoaspiração nas mamas, abdômen, giba (abaixo da nuca) e costas; implante de prótese glútea.

Na lipodistrofia, também podem ocorrer alterações nas gorduras – [tip:colesterol=O colesterol é um tipo de gordura, que o corpo precisa para ajudar a manter as células saudáveis, produzir hormônios sexuais e ter uma boa digestão. Pode ser HDL, o “bom colesterol” e LDL, o “mau colesterol”. O HDL impede que a gordura se acumule nas artérias, evitando entupimento. O LDL forma placas de gordura nas veias e artérias, aumentando o risco de doenças do coração. Está presente em carnes, leite e derivados, manteiga e gemas de ovos. Frutas, vegetais, e cereais não têm colesterol.] e [tip:triglicérides=Os triglicérides são um tipo de gordura que formam 90% da reserva de energia do organismo e se depositam no tecido gorduroso e muscular. Fornece energia, preserva o calor do corpo e ajuda a absorver as vitaminas A, D, E e K. Quando está aumentado no sangue, pode indicar risco de doenças do coração. Estão nos óleos vegetais e na gordura animal.] – e no açúcar do sangue (glicose). São chamadas de alterações metabólicas, que podem levar ao aumento do risco de doenças do coração (cardiovasculares) e ao aparecimento do diabetes.

Diabetes

Alterações do metabolismo podem desenvolver resistência à insulina e, em alguns casos, o surgimento da diabetes mellitus. Nesse caso, a atenção deve ser redobrada, pois a resistência à insulina é fator de risco para o aumento da pressão arterial e de outras doenças cardíacas.

Rins

As alterações nos rins relacionadas ao HIV podem ser agudas (curtas, mas bastante intensas) ou crônicas (duram muito tempo). Por isso, qualquer dor na parte de baixo das costas ou ao urinar deve ser comunicada ao médico o mais rapidamente possível. Mais frequente entre as doenças, a insuficiência renal é causada pelos efeitos tóxicos da terapia antirretroviral ou por remédios usados para tratar as infecções oportunistas.

Fígado

Os antirretrovirais também podem causar danos ao fígado, podendo até levar à sua insuficiência. Muitos dos remédios usados no tratamento da Aids e de doenças oportunistas têm seu metabolismo feito no fígado. Ou seja, para serem absorvidos pelo organismo, precisam ser “desmembrados” no fígado, o que causa sobrecarga e alterações no funcionamento do órgão.

Ossos

Os ossos vivem diariamente um processo de formação e reabsorção, que pode ser desregulado durante a infecção pelo HIV. Quando isso ocorre, pode surgir a osteoporose, doença que torna o osso mais frágil, aumentando o risco de fraturas. Outros fatores importantes que podem contribuir para a perda óssea são: deficiências nutricionais, baixos níveis de cálcio no organismo e hipertireoidismo (excesso de funcionamento da glândula tireoide).

Alterações neuropsiquiátricas

Alguns medicamentos antirretrovirais, especialmente o Efavirenz, podem desencadear agitação, alucinações, amnésia (perda da memória, temporária ou não), ansiedade, confusão mental, convulsões, depressão, dificuldade de concentração, irritabilidade, insônia, pesadelos e sonhos vívidos. Essas alterações neuropsiquiátricas são mais comuns entre os pacientes que ingerem álcool e os usuários de drogas. Portanto, é importante o soropositivo avisar ao médico se faz uso dessas substâncias. Antes da indicação dos coquetéis antiAids, será necessária a avaliação de um profissional de saúde mental.

Sintomas gastrointestinais

Em geral, ocorrem logo no início do tratamento e, na maioria dos casos, desaparecem ou são atenuados após o primeiro mês de uso do medicamento. Entre os mais frequentes encontram-se: diarreiavômitos, náuseasboca secador ao engoliraziaprisão de ventre.

A alimentação é muito importante para melhorar alguns sintomas ou efeitos colaterais que podem aparecer com o uso dos medicamentos. Nesses casos, alguns cuidados adequados com a alimentação são fortes aliados e necessários para manter o equilíbrio do organismo, a hidratação do corpo e recuperar o bem-estar.

Quais os direitos do soro positivo?

Pela Constituição brasileira, os portadores do HIV, assim como todo e qualquer cidadão brasileiro, têm obrigações e direitos garantidos. Entre eles: dignidade humana e acesso à saúde pública e, por isso, estão amparados pela lei. O Brasil possui legislação específica dos grupos mais vulneráveis ao preconceito e à discriminação, como homossexuais, mulheres, negros, crianças, idosos, portadores de doenças crônicas infecciosas e de deficiência.

Em 1989, profissionais da saúde e membros da sociedade civil criaram, com o apoio do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, a Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da Aids. O documento foi aprovado no Encontro Nacional de ONG que Trabalham com Aids (ENONG), em Porto Alegre (RS).

I – Todas as pessoas têm direito à informação clara, exata, sobre a Aids.

II – Os portadores do vírus têm direito a informações específicas sobre sua condição.

III – Todo portador do vírus da Aids tem direito à assistência e ao tratamento, dados sem qualquer restrição, garantindo sua melhor qualidade de vida.

IV – Nenhum portador do vírus será submetido a isolamento, quarentena ou qualquer tipo de discriminação.

V – Ninguém tem o direito de restringir a liberdade ou os direitos das pessoas pelo único motivo de serem portadoras do HIV/Aids, qualquer que seja sua raça, nacionalidade, religião, sexo ou orientação sexual.

VI – Todo portador do vírus da Aids tem direito à participação em todos os aspectos da vida social. Toda ação que visar a recusar aos portadores do HIV/Aids um emprego, um alojamento, uma assistência ou a privá-los disso, ou que tenda a restringi-los à participação em atividades coletivas, escolares e militares, deve ser considerada discriminatória e ser punida por lei.

VII – Todas as pessoas têm direito de receber sangue e hemoderivados, órgãos ou tecidos que tenham sido rigorosamente testados para o HIV.

VIII – Ninguém poderá fazer referência à doença de alguém, passada ou futura, ou ao resultado de seus testes para o HIV/Aids, sem o consentimento da pessoa envolvida. A privacidade do portador do vírus deverá ser assegurada por todos os serviços médicos e assistenciais.

IX – Ninguém será submetido aos testes de HIV/Aids compulsoriamente, em caso algum. Os testes de Aids deverão ser usados exclusivamente para fins diagnósticos,  controle de transfusões e transplantes, estudos epidemiológicos e nunca qualquer tipo de controle de pessoas ou populações. Em todos os casos de testes, os interessados deverão ser informados. Os resultados deverão ser transmitidos por um profissional competente.

X – Todo portador do vírus tem direito a comunicar apenas às pessoas que deseja seu estado de saúde e o resultado dos seus testes.

XI – Toda pessoa com HIV/Aids tem direito à continuação de sua vida civil, profissional, sexual e afetiva. Nenhuma ação poderá restringir seus direitos completos à cidadania.